
Entramos em uma era de regulamentação das Big Techs?
Redes sociais, chamadas de Big Techs, como o Facebook e Instagram têm aumentado cada vez mais o seu poder sobre o mercado da tecnologia e, consequentemente, sobre nossas vidas.
Ao monopolizar a atenção de bilhões de pessoas para as interações que acontecem em suas plataformas, tais redes lucram bilhões de dólares a cada trimestre ao converter essa atenção em venda de espaço para anunciantes.
Até aí, tudo bem. Esse é o modelo de negócios de empresas como Facebook e Google. O problema é que o governo dos EUA entende que essas empresas estão eliminando a concorrência em seus mercados e constituindo monopólios.
Não só o Facebook e o Google, mas também a Apple e a Amazon têm sido alvos de processos antitruste por parte do governo norte-americano, inaugurando o que pode ser uma nova era de regulamentação das Big Techs.
Mas o fato é que esses não são os primeiros impérios da tecnologia a sofrerem processos antitruste.
IBM e Microsoft também foram questionados pelo governo norte-americano e, segundo especialistas afirmam, esses processos foram importantíssimos para desencadear eras de inovação e disrupção que beneficiaram a todos.
Entenda melhor o que está acontecendo e o que o futuro do mercado de tecnologia pode nos reservar.
O processo contra o Facebook
No dia 09 de dezembro de 2020, o Federation Trade Comission (FTC), agência reguladora do governo dos EUA e mais 47 estados norte-americanos abriram um processo antitruste contra o Facebook por monopólio das redes sociais.
O argumento do processo é que, ao comprar outras redes sociais como Instagram e Whatsapp, o Facebook agiu monopolizando o livre mercado de redes sociais e troca de mensagens de forma anticompetitiva.
A justificativa é sustentada na importância de preservação do livre mercado e que o consumidor precisa ter opções de escolha para tomada de decisões. Segundo a agência, o modelo de negócio característico do Facebook acaba centralizando o poder de fazer publicidade num só local.
E mais, concentra um poder importantíssimo no mercado atual: o acúmulo de dados para entender o perfil de consumidores. Outro ponto importante é que a falta de concorrência leva à uma padronização da oferta de um modo específico de fazer negócio.
A década de 2020 e o antitruste da tecnologia
Mas os processos de antitruste não param por aí.
Além desse sofrido pelo Facebook, o Google foi alvo de 3 processos em um intervalo de 8 semanas. 30 estados norte-americanos, mais Washington D.C., Porto Rico e Guam, entraram com uma ação dizendo que a companhia reduziu o alcance de sites como Expedia e Yelp.
Já a Amazon foi autuada pela União Europeia, que a acusou de vantagem indevida através do uso de dados de vendedores que usam seu marketplace. A companhia abusa dessa sua posição ao utilizar grande quantidade de dados não-públicos de vendedores.
A Apple também recebe uma acusação do Departamento de Justiça dos Estados Unidos pela taxa de 30% que a empresa cobra dos desenvolvedores de aplicativos, além de não permitirem nenhuma outra loja de apps em seus dispositivos, encarecendo os preços.
Olhando de uma forma ampla, é inegável que está em curso uma marcha de regulamentação da atuação das Big Techs. E as perspectivas são de muitos outros processos, ameaçando o modelo de negócios e trazendo incertezas para o futuro dessas grandes corporações.
Consequências dos processos e oxigenação do mercado
É interessante recordar a história de outros processos antitrustes no meio tecnológico e como tais eventos foram responsáveis por oxigenar o mercado e dar espaço para o surgimento de novas empresas disruptivas. Pelo menos essa é a tese de Tim Wu, professor de Direito da Columbia University.
Quando uma grande companhia enfrenta um processo antitruste, afirma Wu, algo inusitado ocorre. Os cérebros altamente capacitados da empresa, antes focados em abocanhar e dominar a maior fatia de mercado possível, agora voltam o seu foco para evitar uma decisão judicial altamente desfavorável (incluindo a possibilidade real de desmembramento da empresa).
Tais processos demoram muitos anos, fazendo com que a empresa reduza a sua competitividade antes mesmo do desfecho legal. Certamente, é algo terrível para a companhia, mas que pode ser muito benéfico para o restante do mercado.
Wu sustenta sua ideia com base nos três últimos grandes processos antitruste da história dos EUA: os casos EUA vs. IBM (década de 70), EUA vs. AT&T (década de 80) e EUA vs. Microsoft (década de 90).
A IBM dominava o mercado de grandes computadores até a década de 70, mas o processo antitruste teria contribuído para abrir espaço para o mercado de microcomputadores do Vale do Silício (com destaque para Microsoft e para a Apple, que chegou a antagonizar publicamente com a IBM em sua publicidade).
Algo semelhante ocorreu com o desmembramento da AT&T, cujo monopólio sobre a estrutura de telecomunicações teria, segundo Wu, inviabilizado o surgimento da internet.
E, finalmente, o processo movido contra a Microsoft deu força para duas pequenas companhias que surgiram em meados dos anos 90 e revolucionaram o mercado de tecnologia a partir dos anos 2000; a Google e a Amazon.
Analisando por essa perspectiva, chega a ser até irônico ver as empresas que se beneficiaram dessa dinâmica no passado estarem agora enfrentando os seus processos antitruste.
Qual o impacto dessas ações sobre a grandeza e a capacidade competitiva dessas empresas? Certamente, elas não chegaram onde estão por acaso, e sim gerando valor, muito valor para os seus clientes.
De toda forma, é importante estar atento a essa nova década e quais serão os resultados dos processos antitruste sobre as Big Techs e, consequentemente, sobre o mercado de tecnologia do futuro.