
Como vamos trabalhar no mundo pós-Covid?
A pandemia de COVID-19 trouxe muitas mudanças para a vida de todos. Não foi fácil; tivemos que nos adaptar de forma rápida para continuar produzindo, trabalhando e manter os negócios funcionando.
Com a necessidade de isolamento, muitas empresas se viram obrigadas a adotar o trabalho remoto, acelerando uma transformação que já havia se iniciado.
É cada vez maior o número de grandes empresas que já têm uma rotina de home office consolidada. Por outro lado, nem todas as empresas e colaboradores conseguiram se adaptar às dinâmicas do trabalho remoto, ao potencial aumento das horas trabalhadas e pela dificuldade causada em consequência das distrações de se trabalhar em casa.
A inovação tecnológica acelerada pela realidade da pandemia nos faz repensar como é possível aliar produção de empregos e substituição da inteligência artificial por trabalho humano. Será que estamos preparados?
Como fica a realidade do trabalho no mundo pós-Covid? Neste artigo, falaremos sobre conquistas e desafios dessa nova realidade e quais os possíveis caminhos para lidar com tantas transformações.
Novos formatos e o modelo híbrido de trabalho
Estamos em um momento de revisão de paradigmas. Fomos obrigados a nos adaptar e transformar nossa forma de trabalhar rapidamente. E depois da imposição do home office em tempos de lockdown, muitas empresas estão revendo seu esquema de funcionamento e colocando em prática o esquema fifty-fifty.
Notou-se que fazer revezamentos entre os funcionários poderia reduzir custos, trazer mais segurança (já que ainda não estamos em um cenário completamente seguro) e oferecer mais flexibilidade para trabalhadores cumprirem seus horários. Grandes empresas já tomaram essa decisão.
Recentemente, Bill Gates afirmou em uma entrevista para o The New York Times que o modelo de revezamento de 50% dos funcionários em casa e os outros 50% no local do trabalho está garantido para os próximos anos. E não foi só ele.
Empresas como o Twitter ousaram mais e já confirmaram que o formato de trabalho pós-Covid será totalmente remoto.
Mas quais seriam as consequências dessa mudança de paradigma nas relações de trabalho e no perfil psicológico daqueles mais afetados, especialmente nos especialistas em tecnologia?
Mais criativos ou talvez mais cansados
Um fato é certo: a situação emergencial instaurada pela pandemia nos mostrou a alta capacidade de resiliência e criatividade de empreendedores.
Em questão de dias, foi preciso rever condições de trabalho, logística e produtos, reavaliar necessidades e dores de seus clientes e manter suas empresas de pé em meio a um cenário caótico e extremamente desafiador.
Aqueles que trabalham em casa fazem o esforço de conciliar a vida profissional e pessoal no mesmo espaço e tempo. E aí vem o outro lado da moeda.
Esse perfil de trabalho requer um nível alto de organização para que a vida pessoal não interfira na profissional, ou vice-versa. O foco precisa ser triplicado, porque as distrações são muito maiores. Além disso, a dinâmica do trabalho remoto contribui para o aumento da carga de trabalho.
A National Bureau of Economics Research (NBER) divulgou os resultados de uma pesquisa comprovando que o Home Office aumentou a jornada de trabalho, em média, em 48 minutos por dia. A troca diárias de e-mails aumentou em 5%.
Outro dado importante da mesma pesquisa é a diminuição no tempo das reuniões virtuais.
Em algumas cidades americanas como Washington – DC, por exemplo, a média de duração das reuniões diminuiu logo depois de uma semana de lockdown. Os pesquisadores acreditam que isso ocorra devido à maior dificuldade de concentração pelo excesso de distração que todos têm em casa.
A 4ª Revolução Industrial
O advento da 4ª Revolução Industrial impõe a reestruturação das relações de trabalho por força das novas tecnologias. O desenvolvimento da inteligência artificial, do Big Data e de outras tecnologias disruptivas nos colocou de frente com transformações nunca antes vistas.
O que a Covid fez e está fazendo é acelerar ainda mais esse processo. Estamos enfrentando uma mudança rápida nos perfis de empregos nos últimos meses. E a previsão é de que essa realidade se acentue nos próximos 10 anos.
Dados do World Economics Forum mostram que até 2025 haverá um desenvolvimento de mais de 97 milhões de novos empregos em áreas como:
- big data;
- especialistas em transformação digital;
- especialistas em processos de automação;
- desenvolvedores de aplicativos e softwares;
- marketing digital;
- analistas de segurança.
Em contrapartida, a mesma pesquisa mostra um queda de 85 milhões de empregos, principalmente de:
- contadores e auditores;
- mecânicos e reparadores de máquinas;
- gerentes administrativos;
- secretários executivos e administrativos;
- trabalhadores de fábrica e montagem.
A Covid-19 acabou com mais empregos em 2 meses do que a recessão econômica nos EUA em 2 anos. Mas ao mesmo tempo ofereceu um cenário que requer uma revolução das habilidades de trabalhadores e trabalhadoras.
O ser humano precisa rever suas habilidades profissionais e se reinventar para se adaptar ao novo cenário político, econômico e social.
Mudanças de paradigmas
Talvez seja o momento de acompanhar as mudanças de paradigmas reavaliando o tipo de ameaça que estamos enfrentando. Por muito tempo a inteligência artificial pareceu ser o monstro que dispensa o trabalho humano, causando desemprego e afetando a economia mundial.
Quem sabe a melhor opção não seria mudar o foco e oferecer políticas públicas para o desenvolvimento das habilidades humanas para lidar com a automação e o mundo tecnológico?
A MIT task force “Work of the Future” tem desenvolvido um projeto que questiona como as novas tecnologias estão transformando a natureza humana do trabalho, quais são as habilidades necessárias para que homem e máquina alinhem seus interesses e, por último, como os ganhos com essas inovações podem contribuir para igualdades de oportunidades e inclusão social.
E o que se descobriu é que o futuro do trabalho requer mais um desenvolvimento das habilidades humanas, para estar à frente do desenvolvimento da inteligência artificial, do que um foco na melhoria da própria tecnologia em si.
O que se começa a perceber é a necessidade de desenvolver políticas públicas para que as sociedades possam absorver as transformações causadas pelas novas tecnologias no mundo do trabalho, evitando assim o agravamento de problemas sociais como desemprego e diminuição da renda.
Certamente, as perspectivas para o mundo pós-Covid não deixam de ser desafiadoras. Cada vez mais os líderes e os gestores devem estar capacitados e abraçar as mudanças, para poder se beneficiar delas.
Referências: